No passado dia 17 de Novembro, a comunidade académica celebrou o dia
internacional dos estudantes universitários. A história reza que foi
precisamente a 17 de Novembro de 1939 que um grupo de estudantes da antiga
Checoslováquia lutou heroicamente contra as tropas nazis que atentavam contra a
liberdade do povo deste país. As universidades foram fechadas na madrugada
dessa data, as forças nazis invadiram a sede da Federação Central de Estudantes
Checoslovacos matando dirigentes e levando centenas de estudantes para campos
de concentração.
O Dia Internacional dos Estudantes foi criado em Londres em 1941, pelo
Conselho Internacional de Estudantes (a actual União Internacional de
Estudantes), com delegados de 26 países. Este dia é aproveitado para promover
encontros entre estudantes de diferentes nacionalidades e para enaltecer a
importância dos estudos e dos estudantes na construção da sociedade. Neste
contexto, o dia 17 de Novembro tornou-se um símbolo, que inspirou acções de
estudantes de todo o mundo, representando um dia de solidariedade e luta contra
o fascismo, pela liberdade, a democracia, o progresso social e a paz.
No âmbito desta efeméride, o Jornal o Povo, em forma de entrevista, colheu
o sentimento do Meque Samboco, estudante universitário da Faculdade de Educação
da Universidade Eduardo Mondlane. Trata-se de um jovem sonhador, poeta e
estudante do curso de Psicologia na Vertente de Psicologia Escolar e de
Necessidades Educativas Especiais, na Faculdade de Educação da Universidade
Eduardo Mondlane. Actualmente é presidente do Núcleo dos Estudantes da
Faculdade de Educação da Universidade Eduardo Mondlane. Em seus tempos livres
escreve e declama poesia em vários eventos.
(CM) Referenciou que era estudante do curso de psicologia, que lugar a
psicologia ocupa na sociedade moçambicana?
(MS) Primeiro gostava de referir que, a psicologia é uma ciência que
através de métodos e técnicas científicas procura compreender, explicar,
interpretar e prever o comportamento humano e os seus processos mentais. É uma
ciência complexa e emergente, pouco conhecida e nalgumas vezes muito confundida
com a psiquiatria, que é um outro ramo do saber científico mais alargado que a
Psicologia. No entanto, esta ciência já ocupa um lugar na sociedade
moçambicana, falo em todas as vertentes seja comunitária, organizacional,
escolar, clínica, entre outras áreas da psicologia. Actualmente é possível
destacar a pertinência de psicólogos escolares e de Necessidades Educativas
Especiais no contexto Escolar, por exemplo, um profissional de psicologia
auxilia os outros profissionais da área escolar no desenho de estratégias de
métodos de ensino e aprendizagem para alunos com dificuldades de aprendizagem,
ajustamento de currículos para incluir alunos com vários tipos de deficiências
e que muitas das vezes são excluídos ou até mesmo rotulados como sendo “os
incapazes”. Também ajuda no diagnóstico de alguns problemas emocionais,
aspectos de fóruns psicológico, sociais e familiares que podem influenciar no
sucesso e insucesso escolar dos alunos. Contudo, estes alunos supracitados
apenas precisam de um auxílio durante a sua aprendizagem, pois cada um tem o
seu ritmo de aprendizagem e sus formas de aprender. Neste sentido, já se pode
ver, ouvir e perceber estas questões discutidas e reflectidas em alguns fóruns
de debates, o que nos deixa confortáveis de que esta ciência, pouco a pouco, já
começa a ganhar mais espaço, reconhecimento e apreciação.
(CM) Ao nível da nossa sociedade, ainda há corrente de opiniões segundo
a qual a psicologia é um curso para os dementes (malucos). Como forma de
eliminar essa percepção, o que lhe apraz a dizer?
(MS) Embora ainda não tenha autonomia científica para responder a sua
questão, mas não me simpatizo muito com esta expressão “maluco”, este termo
conduz-nos à atitudes pejorativas. Estes são apenas indivíduos que devida a uma
lesão ou disfuncionamento em uma das partes do cérebro, já não consegue se
ajustar as suas e as exigências do meio, podendo em algum momento restaurar o
seu funcionamento, com ajuda de profissionais da área de saúde mental. Bom, eu
também fui vítima desta percepção errónea quando fui admitido na UEM. Os meus
amigos e conhecidos riram-se de mim dizendo que ia à Maputo estudar para cuidar
de “malucos”. Fiquei com receio, assustado e inseguro sobre o curso, porém algo
curioso escorria sobre os meus pensamentos e arrastava-me à crença de que não
era verdade e, a vontade de estudar a psicologia acresceu ainda mais. Dizer que
estes são dois profissionais que trabalham com a mente humana, ajudando a
abrandar o sofrimento de pessoas com graus variados de queixas e distúrbios
ligados às emoções e sentimentos. O psiquiatra é um médico de fórum psicológico
e o seu foco está na identificação e diagnóstico dos transtornos mentais para
então propor um tratamento adequado em cada caso. Ele pode solicitar exames
clínicos para ajudar no diagnóstico e receitar medicamentos, já o psicólogo,
por outro lado, não pode receitar medicamentos, usando apenas técnicas e
métodos psicoterapêuticos para ajudar o paciente no seu sofrimento psíquico.
Contudo, não existe cursos de “malucos” e nem para “malucos”, são duas áreas da
saúde mental que procuram ajudar pessoas que por algum momento perderam o
contacto com a realidade e não conseguem se ajustar as normas sociais e vivem
num sofrimento psíquico.
(CM) Para si, o que significa ser
estudante universitário?
(MS) Uma pergunta muito simples, mas que pode arrecadar uma resposta
complexa. Ser estudante é muito mais do que ir à Universidade cumprir com o
plano curricular do curso escolhido e consumir teorias, mas sim é, saber
aplicar e intervir na sociedade usando os conhecimentos aprendidos na academia
e ajudar no desenvolvimento social e humano. Também acaba sendo um momento de
construção de novas ideias, novas reflexões, novos paradigmas, teorias, novas
formas de pensar, novas amizades, o respeito a diversidade de ideias, o
espírito humanismo e o respeito pela diversidade cultural.
(CM) Na qualidade de ser estudante universitário, como tem sido o seu
dia-a-dia?
(MAS
(CM) Uma das características da Universidade é a pesquisa. Poucos
estudantes se dedicam a esta actividade. Na sua opinião, a que se deve a
prevalência desse cenário?
(MS) Eu também sempre me questionei acerca disso. Porém, às vezes sinto que
há um pouco de medo por parte do estudante. Alguns chegam à pensar que
investigação é coisa de outro mundo e que só pode ser feito por pessoas que já
terminaram a licenciatura ou mestrado. Falo disto por experiência própria,
quando ingressei na Faculdade, pensava que pesquisar não era para pessoas do
meu nível, mas com leitura, informação e aulas práticas, fui me apercebendo que
é possível investigar e publicar um trabalho com ajuda de pessoas mais
experientes.
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