terça-feira, 25 de novembro de 2014

ANÁLISE DA EFICÁCIA DO CURRÍCULO LOCAL

O Ministério da Educação através do Plano Curricular do Ensino Básico moçambicano (2003:27) advoga que o programa de ensino deve incluir saberes locais, de modo a que a inserção social dos cidadãos moçambicanos seja cada vez mais adequada. Para o efeito, a escola e a comunidade são considerados como sendo os principais intervenientes para a ocorrência deste processo.

Os órgãos supracitados devem estabelecer um diálogo permanente para que a matéria elaborada aborde conteúdos inerentes aos interesses da comunidade local. Os mesmos devem ser integrados em diferentes disciplinas curriculares com carga horária correspondente à 20% em cada disciplina. Esta inovação é meramente designada currículo local

Na visão de Castiano (2005:74) currículo local é o conjunto de conteúdos determinados como sendo relevantes para aprendizagem, aplicáveis nas diferentes disciplinas do currículo nacional. O currículo local permite com que o professor assim como líder comunitário façam uma investigação acerca dos saberes locais de maneira a que, por meio de interacção com pessoas que detenham habilidades ou conhecimentos, possa produzir conteúdos relevantes para a comunidade.

Nesta perspectiva, a implementação desta inovação desencadeou-se há sensivelmente 5 anos e, de lá para cá, sempre que se fala desta inovação, surge à mente de vários actores educativos uma série de interrogações ao respeito de sua eficácia. Não obstante, alguns quadros ligados à educação defendem que o currículo local devia ser ministrado mediante o uso de uma língua local com vista a facilitar a assimilação dos conteúdos leccionados na sala de aulas.

No entanto, sendo Moçambique um país multicultural e plurilingue, percebo que, enquanto prevalecer o triste fenómeno que se verifica em relação à afectação dos professores, sobretudo, os da educação básica que na sua maioria são movimentados dos seus pontos de origem para uma zona desconhecida e que não conheçam os problemas locais existentes na sua plenitude, e também, o facto de algumas escolas se encontrarem longe das comunidades, a relevância e/ou a eficácia do currículo local serão sempre questionadas.

Ainda no que concerne a implementação do currículo local eficaz, parece-me estar intimamente relacionada com o que sociólogo francês Bordieu designa Violência Simbólica. Nesta ordem de ideias, solicito à vossa atenção para juntos analisarmos o seguinte fenómeno que há anos se manifesta em Moçambique: algumas crianças, principalmente, as que vivem no campo têm percorrido longas distâncias a fim de ter acesso à localidades que possuam estabelecimentos de ensino secundário. Na sala de aulas, elas são “impostas” a assimilar conhecimentos que não reflectem os anseios e nem saberes das suas comunidades. E, o tal conteúdo é sobejamente transmitido por professores não nativos de tais localidades, isto é, professores migrantes não oriundos de comunidades onde desenvolvem o currículo local.


Em suma, me apraz compartilhar com os demais a seguinte reflexão: qual é a relevância, eficácia e implicação do currículo local para o Sistema Nacional de Educação face aos constrangimentos acima mencionados.


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