quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

ATENÇÃO AOS ESTUDANTES-DOUTORES!!!

Não se trata do meu hábito escrever textos fora da temática da educação, assim o fiz para manifestar o meu profundo descontentamento relativamente a um fenómeno que tem vindo a manchar a reputação de muitos estudantes universitários. De boca cheia, se têm intitulado doutores. Acham-se “bons” demais ao ponto de aderir convites que não lhes dizem respeito, convites que lhes “obrigam” a falar em público sobre matéria que não sejam do seu interesse.

Todo fenómeno não controlado pode trazer efeitos graves na vida de alguém. Em um dos canais televisivos, na manhã de hoje, debatia-se o seguinte tema: Nível escolar dos pais e o sucesso escolar dos filhos. À medida que o tempo ia passando, os convidados traziam abordagens resultantes das experiências pessoais e não abordagens que reflectem o efeito de algumas pesquisas feitas acerca do tema do dia.

Uma das convidadas do painel, por sinal, estudante da Faculdade de Letras e Ciências Sociais na Universidade Eduardo Mondlane referiu que, passo a citar: os meus pais, sempre acompanharam o meu sucesso escolar, sempre me incentivam a estudar para no futuro não ficar na rua a vender.

Ora vejamos, esse tipo de declarações dada à nível da televisão suscita muitas inquietações e rumores. Sem dúvida, os espectadores e telespectadores atentos esperavam ouvir comentários e/ou respostas das questões como: Até que ponto o nível escolar de um pai pode influenciar o sucesso escolar dos seus filhos? De que maneira um pai escolarizado e não escolarizado pode contribuir no sucesso escolar dos filhos? E por fim, que tipo de benefícios/vantagens os filhos podem obter num pai escolarizado?

Elísio Macamo, sociólogo moçambicano, numa palestra proferida no espaço 1502 da UEM, disse que o estudante do nível superior devia saber honrar a sua formação. Honrar a formação académica tem várias e inúmeras interpretações. Pode estar relacionada com o que Jecks Dellors (2012), num dos seus quatros pilares da educação em recomendação da Unesco chamou de o saber ser e estar, que no meu entender é falar para dizer algo útil e relevante para o auditório que o escuta. Pode também significar, acima de tudo, a convicção de que o que o indivíduo se propõe a dizer não vai deturpar a informação que um dia teria sido divulgada, tal como fazem os verdadeiros e fiéis académicos, que constantemente falam certo para pessoas certas no lugar e momento certo, transmitindo um conhecimento lógico.

Voltando ao caso da moça que os pais permanentemente acompanhavam o seu sucesso escolar na medida em que lhe encorajavam a estudar sob pena de um dia ficar na rua a vender. A questão que se pode colocar é a seguinte:
Quando alguém fica na rua a vender é resultado de não ter estudado? Ou por outras, todo o indivíduo que vende na rua é porque não estudou? Qual é a relação lógica entre o vender na rua e o não ter estudado?

No meu entender, à semelhança de qualquer pai, usa-se esse tipo “truque” para se incutir na mente das crianças sobre a importância da educação. Porém, a moça, sendo estudante do ensino superior, penso que devia trazer uma abordagem que, à partida, não levante inquietações e nem especulações.

Infelizmente, em Moçambique, já aparecem os graduados do nível básico, médio e até do superior a procurar as melhores condições de auto-sustento na rua, no mercado e nas lojas da cidade devido a falta de um emprego condigno. Portanto, o maior erro que alguém pode cometer na vida é assumir que todo vendedor, principalmente, da rua, é um indivíduo iletrado e ignorante.
Daqui há sensivelmente duas semanas, vem aí os exames de admissão, como sempre, gente com coragem e vontade de prosseguir com a carreira estudantil será uma vez mais adiada sob alegações de que não há vagas para todos, que entre o melhor.

Aos colegas-estudantes, vai um apelo para vós, não sejais espalhados e nem papagaios. Saibam recusar o convite que não vos diz respeito, não falem antes de dar atenção à quem detém de algum conhecimento sobre o assunto abordado, e por fim, não falem para aparecer mas sim para ajudar a mudar a personalidade das pessoas que vos rodeiam e que depositam confiança em vós.


Um docente meu disse que costumava pedir ajuda aos colegas de profissão e confiança para dar aulas acerca da matéria que ainda não seja do seu domínio. Este tipo de atitude, embora seja boa, no seio do departamento causava uma certa desconfiança quanto ao saber do docente. Entretanto, devia servir de lição positiva, pois, permite com que o docente não passe por uma vergonha desnecessária. Paulo Freire, na obra da pedagogia de autonomia diz que o professor é um eterno aprendiz, significa que deve aprender com os outros sempre que for necessário.


REFLECTINDO CRITICAMENTE SOBRE OS RITOS DE INICIAÇÃO E A ESCOLA FORMAL COMO SISTEMAS EDUCATIVOS E DE SOCIALIZAÇÃO DOS ADOLESCENTES DO DISTRITO DE MOGOVOLAS, NAMPULA.





Nos dias 19 e 20 de Novembro de 2014, o Centro dos Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane realizou no complexo pedagógico a III Conferência Internacional de África subordinada ao tema:  Dinâmicas Sociais em África: Rupturas e Continuidades. No evento, mais de 60 apresentações das comunicações de diferentes áreas temáticas foram feitas em paralelo.

Na primeira parte do programa, tive o prazer de acompanhar a exposição intitulada: Ritos de iniciação e a escola formal como sistemas educativos e de socialização de adolescentes, na qual o autor procurava descrever o encontro (convergência) e desencontro (divergência) entre a educação tradicional (ritos de iniciação) e a educação formal. Ao longo da sua abordagem, pude perceber que os ritos de iniciação constituem uma forma de educação que os povos da região norte usam para transmitir valores culturais das comunidades com vista a formação e preparação dos jovens para a sua integração na vida social. Neste caso, convergem com a escola formal uma vez que se preocupam com a formação da personalidade do indivíduo de maneira que seja útil na sociedade, assim como transmitem ensinamentos que guiam a conduta ética e moral dos indivíduos de uma determinada região.

Quanto as suas divergências, referiu-se que os ritos de iniciação desencontram-se com a escola formal devido aos métodos que são frequentemente aplicados na transmissão de tais ensinamentos, para além de que na sua maioria, são ministrados por indivíduos não escolarizados e cheios de vícios. Entretanto, têm usado expressões e atitudes violentas como insultos, castigos físicos e psicológicos que muitas vezes são acompanhados de exemplos estranhos que traumatizam os adolescentes.

As meninas são sempre inculcadas a mentalidade de que o homem existe para dar ordens (superioridade masculina) em relação a mulher. Este tipo de ensinamento, coloca a mulher na situação de objecto, dependente, conformista e que ela só existe para servir o homem, isso numa altura cuja emancipação da mulher e igualdade de género são algumas das prioridades de governação.

As meninas são também incutidas a ideia de que o sexo feminino constitui uma fonte de riqueza, um cofre inesgotável ou um cheque visado do qual pode se fazer dinheiro, obter condições e atingir objectivos ou metas em todo lado onde quer que seja. Elas são ensinadas que a razão da sua existência no mundo é servir o homem, por isso, em nenhum momento devem contrariar a vontade sexual do marido sempre que manifestar desejos.

De acordo com Viegas (2012), as meninas são ensinadas a prática e a técnica do acto sexual com o homem através do método de dramatização e simulação. O autor aponta que os ritos de iniciação desencontram-se com a escola formal uma vez que os ensinamentos e métodos usados desviam-se dos objectivos nobres, começam a perder com a ganância de experimentar, implementar os ensinamentos outrora inculcados durante os ritos de iniciação e obter dinheiro para vestir e outras necessidades.

Bom, eu compreendo que os ritos de iniciação, apesar de constituírem uma forma de socialização humana ao ponto de gerar a aprendizagem útil na vida social do indivíduo, desencontram-se com a escola formal uma vez que os seus ensinamentos não estão sistematizados em idade, mas sim aparecem estruturados por sexo. Aliado à isso, é o facto de ocorrerem somente na fase da adolescência, isto é, entre os 11 à 14 anos, para o caso das meninas é logo após a verificação do primeiro ciclo menstrual.

Neste processo, ocorre a violência psicológica e a linguística visto que os adolescentes são ensinados a aprender a assimilar tudo ao mesmo tempo, numa zona florestal, espécie de um isolamento. As vezes, num período em que coincide com as aulas. Por isso, por muito tempo, tem havido registos de choques frequentes com o calendário escolar. Há até situações em que as crianças, simplesmente abandonam as aulas sem o consentimento e nem conhecimento do professor.


Na minha óptica, os ritos de iniciação convergiriam com a escola formal se os seus ensinamentos fossem estruturados e sistematizados em idade, tendo em conta ao desenvolvimento psicológico do indivíduo. Quanto à sua implementação, penso que seria no recinto escolar, onde participaria os membros da comunidade tal como acontece com o currículo local. Portanto, a sistematização de qualquer ensinamento é muito relevante para a sua própria compreensão e eficácia, por exemplo, o Ministério de Saúde está desenvolver o planeamento familiar para as mulheres somente em idade de procriar. É uma atitude de louvar, pois, adquire-se um conhecimento que a sua aplicação é prática, diferentemente da dosagem dos ritos de iniciação como a pratica relações sexuais, preparação de cadáveres e casamento que são transmitidos à uma rapariga de apenas 11 anos de idade num só período.