quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

REFLECTINDO CRITICAMENTE SOBRE OS RITOS DE INICIAÇÃO E A ESCOLA FORMAL COMO SISTEMAS EDUCATIVOS E DE SOCIALIZAÇÃO DOS ADOLESCENTES DO DISTRITO DE MOGOVOLAS, NAMPULA.





Nos dias 19 e 20 de Novembro de 2014, o Centro dos Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane realizou no complexo pedagógico a III Conferência Internacional de África subordinada ao tema:  Dinâmicas Sociais em África: Rupturas e Continuidades. No evento, mais de 60 apresentações das comunicações de diferentes áreas temáticas foram feitas em paralelo.

Na primeira parte do programa, tive o prazer de acompanhar a exposição intitulada: Ritos de iniciação e a escola formal como sistemas educativos e de socialização de adolescentes, na qual o autor procurava descrever o encontro (convergência) e desencontro (divergência) entre a educação tradicional (ritos de iniciação) e a educação formal. Ao longo da sua abordagem, pude perceber que os ritos de iniciação constituem uma forma de educação que os povos da região norte usam para transmitir valores culturais das comunidades com vista a formação e preparação dos jovens para a sua integração na vida social. Neste caso, convergem com a escola formal uma vez que se preocupam com a formação da personalidade do indivíduo de maneira que seja útil na sociedade, assim como transmitem ensinamentos que guiam a conduta ética e moral dos indivíduos de uma determinada região.

Quanto as suas divergências, referiu-se que os ritos de iniciação desencontram-se com a escola formal devido aos métodos que são frequentemente aplicados na transmissão de tais ensinamentos, para além de que na sua maioria, são ministrados por indivíduos não escolarizados e cheios de vícios. Entretanto, têm usado expressões e atitudes violentas como insultos, castigos físicos e psicológicos que muitas vezes são acompanhados de exemplos estranhos que traumatizam os adolescentes.

As meninas são sempre inculcadas a mentalidade de que o homem existe para dar ordens (superioridade masculina) em relação a mulher. Este tipo de ensinamento, coloca a mulher na situação de objecto, dependente, conformista e que ela só existe para servir o homem, isso numa altura cuja emancipação da mulher e igualdade de género são algumas das prioridades de governação.

As meninas são também incutidas a ideia de que o sexo feminino constitui uma fonte de riqueza, um cofre inesgotável ou um cheque visado do qual pode se fazer dinheiro, obter condições e atingir objectivos ou metas em todo lado onde quer que seja. Elas são ensinadas que a razão da sua existência no mundo é servir o homem, por isso, em nenhum momento devem contrariar a vontade sexual do marido sempre que manifestar desejos.

De acordo com Viegas (2012), as meninas são ensinadas a prática e a técnica do acto sexual com o homem através do método de dramatização e simulação. O autor aponta que os ritos de iniciação desencontram-se com a escola formal uma vez que os ensinamentos e métodos usados desviam-se dos objectivos nobres, começam a perder com a ganância de experimentar, implementar os ensinamentos outrora inculcados durante os ritos de iniciação e obter dinheiro para vestir e outras necessidades.

Bom, eu compreendo que os ritos de iniciação, apesar de constituírem uma forma de socialização humana ao ponto de gerar a aprendizagem útil na vida social do indivíduo, desencontram-se com a escola formal uma vez que os seus ensinamentos não estão sistematizados em idade, mas sim aparecem estruturados por sexo. Aliado à isso, é o facto de ocorrerem somente na fase da adolescência, isto é, entre os 11 à 14 anos, para o caso das meninas é logo após a verificação do primeiro ciclo menstrual.

Neste processo, ocorre a violência psicológica e a linguística visto que os adolescentes são ensinados a aprender a assimilar tudo ao mesmo tempo, numa zona florestal, espécie de um isolamento. As vezes, num período em que coincide com as aulas. Por isso, por muito tempo, tem havido registos de choques frequentes com o calendário escolar. Há até situações em que as crianças, simplesmente abandonam as aulas sem o consentimento e nem conhecimento do professor.


Na minha óptica, os ritos de iniciação convergiriam com a escola formal se os seus ensinamentos fossem estruturados e sistematizados em idade, tendo em conta ao desenvolvimento psicológico do indivíduo. Quanto à sua implementação, penso que seria no recinto escolar, onde participaria os membros da comunidade tal como acontece com o currículo local. Portanto, a sistematização de qualquer ensinamento é muito relevante para a sua própria compreensão e eficácia, por exemplo, o Ministério de Saúde está desenvolver o planeamento familiar para as mulheres somente em idade de procriar. É uma atitude de louvar, pois, adquire-se um conhecimento que a sua aplicação é prática, diferentemente da dosagem dos ritos de iniciação como a pratica relações sexuais, preparação de cadáveres e casamento que são transmitidos à uma rapariga de apenas 11 anos de idade num só período.


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