Nos dias 19 e 20 de Novembro de 2014, o Centro dos Estudos Africanos da
Universidade Eduardo Mondlane realizou no complexo pedagógico a III Conferência
Internacional de África subordinada ao tema: Dinâmicas Sociais em África: Rupturas e
Continuidades. No evento, mais de 60 apresentações das
comunicações de diferentes áreas temáticas foram feitas em paralelo.
Na primeira parte do programa, tive o prazer de acompanhar a exposição
intitulada: Ritos de iniciação e a escola formal como sistemas educativos e de
socialização de adolescentes, na qual o autor procurava descrever o encontro
(convergência) e desencontro (divergência) entre a educação tradicional (ritos
de iniciação) e a educação formal. Ao
longo da sua abordagem, pude perceber que os ritos de iniciação constituem uma
forma de educação que os povos da região norte usam para transmitir valores
culturais das comunidades com vista a formação e preparação dos jovens para a
sua integração na vida social. Neste caso, convergem com a escola formal uma
vez que se preocupam com a formação da personalidade do indivíduo de maneira
que seja útil na sociedade, assim como transmitem ensinamentos que guiam a
conduta ética e moral dos indivíduos de uma determinada região.
Quanto as suas divergências, referiu-se que os ritos de iniciação
desencontram-se com a escola formal devido aos métodos que são frequentemente
aplicados na transmissão de tais ensinamentos, para além de que na sua maioria,
são ministrados por indivíduos não escolarizados e cheios de vícios.
Entretanto, têm usado expressões e atitudes violentas como insultos, castigos
físicos e psicológicos que muitas vezes são acompanhados de exemplos estranhos
que traumatizam os adolescentes.
As meninas são sempre inculcadas a mentalidade de que o homem existe para
dar ordens (superioridade masculina) em relação a mulher. Este tipo de
ensinamento, coloca a mulher na situação de objecto, dependente, conformista e
que ela só existe para servir o homem, isso numa altura cuja emancipação da
mulher e igualdade de género são algumas das prioridades de governação.
As meninas são também incutidas a ideia de que o sexo feminino constitui
uma fonte de riqueza, um cofre inesgotável ou um cheque visado do qual pode se
fazer dinheiro, obter condições e atingir objectivos ou metas em todo lado onde
quer que seja. Elas são ensinadas que a razão da sua existência no mundo é
servir o homem, por isso, em nenhum momento devem contrariar a vontade sexual
do marido sempre que manifestar desejos.
De acordo com Viegas (2012), as meninas são ensinadas a prática e a técnica
do acto sexual com o homem através do método de dramatização e simulação. O
autor aponta que os ritos de iniciação desencontram-se com a escola formal uma
vez que os ensinamentos e métodos usados desviam-se dos objectivos nobres, começam
a perder com a ganância de experimentar, implementar os ensinamentos outrora
inculcados durante os ritos de iniciação e obter dinheiro para vestir e outras
necessidades.
Bom, eu compreendo que os ritos de iniciação, apesar de constituírem uma
forma de socialização humana ao ponto de gerar a aprendizagem útil na vida
social do indivíduo, desencontram-se com a escola formal uma vez que os seus
ensinamentos não estão sistematizados em idade, mas sim aparecem estruturados
por sexo. Aliado à isso, é o facto de ocorrerem somente na fase da
adolescência, isto é, entre os 11 à 14 anos, para o caso das meninas é logo
após a verificação do primeiro ciclo menstrual.
Neste processo, ocorre a violência psicológica e a linguística visto que os
adolescentes são ensinados a aprender a assimilar tudo ao mesmo tempo, numa
zona florestal, espécie de um isolamento. As vezes, num período em que coincide
com as aulas. Por isso, por muito tempo, tem havido registos de choques
frequentes com o calendário escolar. Há até situações em que as crianças,
simplesmente abandonam as aulas sem o consentimento e nem conhecimento do
professor.
Na minha óptica, os ritos de iniciação convergiriam com a escola formal se
os seus ensinamentos fossem estruturados e sistematizados em idade, tendo em
conta ao desenvolvimento psicológico do indivíduo. Quanto à sua implementação,
penso que seria no recinto escolar, onde participaria os membros da comunidade
tal como acontece com o currículo local. Portanto, a sistematização de qualquer
ensinamento é muito relevante para a sua própria compreensão e eficácia, por
exemplo, o Ministério
de Saúde está desenvolver o planeamento familiar para as mulheres somente em
idade de procriar. É uma atitude de louvar, pois, adquire-se um conhecimento
que a sua aplicação é prática, diferentemente da dosagem dos ritos de iniciação
como a pratica relações sexuais, preparação de cadáveres e casamento que são
transmitidos à uma rapariga de apenas 11 anos de idade num só período.
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