quarta-feira, 2 de maio de 2018

Outro olhar sobre a morte da Zena Bacar


Outro olhar sobre a morte da Zena Bacar
Sempre que um artista de grande calibre perde a vida, tem sido comum nas redes sociais aparecerem comentários que colocam em causa o papel dos órgãos governamentais que operam na área da cultura.  Muitos deles, são comentários do tipo, se o governo tivesse intervindo o artista X não teria morrido tal como Marta e Maria declararam a Jesus aquando da morte do seu irmão Lázaro, amicíssimo de Jesus.
Quanto a surpreendente morte da conceituada cantora Zena Bacar, os comentários, embora  diferentes na sua abordagem, para os mais atentos, percebeu-se que o seu alcance tinha a ver com as críticas que eram lançadas ao Estado como se fosse inteiramente responsável pela morte dessa diva. Por isso, de forma grosseira, as pessoas problematizavam o papel que é desempenhado pelo governo no que toca a protecção social dos artistas.
É certo que o governo, neste caso, o Ministério e direcções culturais, têm ou deviam ter um papel preponderante a desempenhar, daí que existe, a associação dos músicos, embora a opinião pública considere que poucas são as acções concretas e visíveis que são desenvolvidas por esta agremiação. Por exemplo, de forma recorrente, tem se questionado acerca da inexistência de um plano de saúde para os músicos. 
A respeito da morte e da figura da Zena Bacar, os comentários que inundaram e que ainda inundam as redes sociais, com destaque para o facebook, em nenhum momento tem como alcance a problematização do papel por ela desempenhada com vista a garantir o seu próprio bem estar. Digo isso porque no nosso meio há músicos que quando ainda estão em activo, quase todos finais de semana são chamados para actuar em eventos e de lá saem com um bom cachê.
Entretanto, poucos músicos fazem algo visível de maneira que assim que a carreira terminar, consigam viver sem ter que passar pela condição da marginalização. Como consequência, quando ficam doentes, como se de cidadãos pacatos fossem são internados nos hospitais públicos, isto é, em locais cujas deficiências são por nós sobejamente conhecidas. 
Face a esta triste realidade, o meu comentário é o seguinte: é necessário que as entidades governamentais criem ou intensifiquem estratégias com vista a protecção social dos artistas. Refiro-me à estratégias que visam regular a vida do artista pois não se justifica que terminada a carreira, sob pretexto de o artista ter levado o nome de Moçambique ao além fronteira, apareça a reclamar do tipo está sendo marginalizado pelo governo do dia.
De salientar que no tempo em que o artista ainda está em activo, factura milhões e milhões nos espectáculos semanais e no dia seguinte publica fotos nas redes sociais com um novo carro, casa, etc e quando a carreira e a fama terminam, vira um autêntico paupérrimo. A questão que se coloca é: O que este “artista” fez ao longo da sua carreira com vista a garantir o seu próprio bem estar? Será que não sabia que a fama e o dinheiro não são coisas naturais mas sim passageiras?
Por exemplo, na Alemanha o governo intervém de forma rígida na vida dos jogadores estrangeiros. Do valor mensal que se recebe, corta-se uma percentagem e é canalizada ao INSS do seu respectivo país de forma que assim que a carreira terminar, o mesmo tenha onde enxugar as lágrimas.
Portanto, já é altura certa para o Estado moçambicano intervir de forma directa na protecção social dos artistas, e é também altura certa para o artista moçambicano começar a despertar do sono profundo, sobretudo no ponto do pós-carreira. Chega de ouvir-se lamentações de alguém que em algum momento da sua vida ostentava uma saúde financeira que nada espelha a realidade dos moçambicanos.

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