terça-feira, 31 de maio de 2016

O PAPEL DAS BIBLIOTECAS NA GESTÃO DA INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA: DESAFIO PARA UMA UNIVERSIDADE DE INVESTIGAÇÃO


O tema acima exposto foi proferido na passada Sexta Feira no Centro Cultural da Universidade Eduardo Mondlane pelo professor catedrático Emir José Suaiden da Universidade de Brasília (Brasil) no âmbito da cerimónia de abertura do ano académico da Universidade Eduardo Mondlane referente ao ano de 2016.

O orador iniciou a sua alocução lembrando a comunidade estudantil presente no evento sobre a necessidade de a biblioteca estar disponível 24 sobre 24 horas de maneira que, a circulação de informação seja cada vez maior visto que vivemos numa sociedade de conhecimento na qual a informação é o principal veículo.

Dentre os vários pontos abordados, falou-se da relação entre os docentes e a biblioteca. Este ponto foi o mais interessante de todos, pois, segundo o orador, a razão da existência de uma biblioteca prende-se com a promoção da investigação científica de docentes e estudantes.

Em Moçambique há poucos usuários de bibliotecas, quer públicas, quer privadas, há quem diga que os docentes são os primeiros a não aceder as bibliotecas. Verdade ou mentira, o certo é que para muitos docentes, o conhecimento só é válido quando lhe é familiar, do contrário não serve. Por isso, poucos são os estudantes que se atrevem em levar para a sala de aulas teorias ou pensamentos que não sejam do conhecimento do docente.

Quanto a nós os estudantes, infelizmente não exploramos as bibliotecas como devia ser, embora haja razões do tipo as nossas bibliotecas parecem museus de livros visto que há mais referências bibliográficas antigas que recentes.

Portanto, em relação a necessidade de a biblioteca estar aberta 24 sobre 24 horas, eu penso que o magnifico reitor da UEM devia acatar, tomando em conta que é uma medida que visa o não encerramento da Biblioteca Central Brazão Mazula tal como fez-se com as bibliotecas das universidades portuguesas no período em que o ministro da Educação era Nuno Crato. 


UMA PROMISSORA ACTRIZ MOÇAMBICANA CHAMADA SUFAIDA MOIANE


Entre os anos de carreira e os êxitos alcançados até então, nota-se em Sufaida Moiane um desfasamento bastante largo. Sufaida Moiane é uma actriz moçambicana, de 25 anos de idade, estudante do curso do teatro na Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane e tem estado a participar em gravações de filmes e radionovelas desempenhando, muitas vezes, o papel de personagem principal. A actriz revelou que já partilhou os mesmos palcos com atores sonantes do teatro nacional até internacional.

Durante a sua infância, já sonhava com a arte de representar?
Fazer teatro nunca passou pela minha cabeça. Quando eu frequentava o ensino primário, gostava de desenhar bonecos e punha-lhes a conversar como se fossem marionetes. Nessa altura, não pensava no teatro, pior porque não cresci com acesso directo à televisão, comecei a ver televisão na fase da adolescência. Eu cresci a ouvir rádio, principalmente as radionovelas, os famosos Mabulo ya Kuya Kana e cena aberta. Portanto, não imaginava que um dia pudesse ser actriz tal como sou hoje.

No sistema educativo moçambicano, a arte e em particular o teatro não é muito reflectido nos manuais didácticos. O que motivou a Sufaida a seguir o curso de teatro em nível superior?

Uff! É uma história muito longa mas vou tentar resumir. Na oitava classe, numa das aulas da disciplina de Português o professor trouxe um texto narrativo e mandou a turma transformar em texto dramático. Em seguida, eu fiz alguma representação e ele gostou. No mesmo ano, participei num projecto direccionado à saúde sexual reprodutiva. O financiador do projecto era o Fundo do Desenvolvimento Comuniário (FDC) e denominava-se KULHUVUKA. À dado momento, o projecto não teve mais financiamento, no entanto, eu e alguns membros do grupo decidimos criar um grupo teatral chamado PFUKA HI FAMBA. Eu (Sufaida Moiane), era a única menina do grupo, porém, actuava, escrevia e encenava as peças. Quando conclui o nível médio, fiquei sabendo que na Universidade Eduardo Mondlane leccionava-se um curso de teatro. Consultei algumas pessoas mais próximas à mim para saber se podia ou não fazer o curso e muita gente não esteve a favor do teatro. Mas porque eu queria fazer teatro não desisti, fui à luta.

O fazedor de arte é sempre inspirado e encorajado por alguém. Quais são as suas referências?

Sem gaguejar, Sufaida Moiane mencionou nomes de Lucrécia Paco e Mário Mabjaia. No dia em que conheci Lucrécia Paco fiquei com a cara dela. O mesmo aconteceu com Mário Mabjaia, quando pela televisão vi as publicidades que ele fazia. Mário Mabjaia é o actor que está no centro da minha cabeça, até porque já tive a oportunidade de actuar com ele. Estes actores são as minhas principais referências. Existem outros que não são famosos, alguns porque vivem na diáspora como é o caso de Magacela, que só aparece quando há festivais de teatro ou gravações de filmes.

O que significa para si fazer teatro em Moçambique dado ao contexto político, social, económico e cultural do país?

Para mim, fazer teatro em Moçambique é um desafio, mas um desafio a ser superado a cada dia. É muito difícil seguir as artes em Moçambique, sobretudo o teatro, não porque seja o meu mundo. Os actores de teatro dependem muito dos terceiros, dependem da disponibilidade dos espaços e do público. Ao passo que os músicos não, basta entrarem num determinado estúdio e gravarem uma música e minutos depois bombam nas rádios, televisões, etc. O teatro não permite isso, teatro é uma coisa viva e presencial, é aqui e agora. Repito, fazer teatro em Moçambique é um desafio, mas um desafio a ser superado a cada dia.

Em 2013, Sufaida Moiane participou numa radionovela denominada: Dilema de uma geração encruzilhada. Como se sentiu durante a gravação dessa novela?

Dilema de uma geração encruzilhada é uma novela que pertence a rádio capital. Com essa novela, entrei no estúdio pela primeira vez e tive de aprender a falar e transmitir emoções/sentimentos pelo microfone. Foi uma boa experiência, pois no mesmo ano, gravei outra novela, Fatias da Vida. Nessa novela fui convidada para desempenhar um dos papéis mais importantes, a protagonista. Infelizmente, troquei do papel porque na altura tinha uma série de ocupações.

Dentre os bons momentos que marcam a sua carreira, destaca-se a participação na peça denominada Incluarte: realidades e sonhos. À pedido do público, a peça chegou a ser exibida mais de duas vezes. Que impacto teve essa peça na sua carreira?

Ah meu Deus! O casting para a minha participação nessa peça decorreu em plena Sexta-Feira santa. Foi algo muito difícil para mim, pois precisava-se de um pouco de tudo (bailarinos, mímicos, cegos). Por sorte, fui apurada e eu era a única actriz no meio de pessoas com deficiência física e visual. Foi bom pois partilhei o mesmo palco com pessoas que nunca imaginava como é o caso da bailarina Mariana. Nessa peça aprendi a dançar, cantar, gesticular e falar muito pouco o que não é comum no teatro.

Quais foram os momentos mais altos e baixos da sua carreira?
(Risos). O momento alto de todos foi quando participei no Festival do teatro realizado no rio de Janeiro (Brasil) em 2014, para além de actuar como actriz, gravei um filme. Confesso que me foi difícil gravar o filme. No teatro nós aprendemos a construção de personagens, aprendemos que temos que falar as coisas com toda naturalidade diferentemente do filme. No filme, algumas coisas são feitas pelas cameras, exemplo, o sentimento do actor.
Quanto aos momentos baixos da minha carreira, foram vários, (pausa). Por exemplo, no ano passado actuei com a Companhia Teatral Mutombela Gogo na peça denominada os meninos de ninguém, e tive imensas dificuldades em encarnar algumas personagens pois exigia-se de mim algo que nunca tinha estudado na escola.  

Na sua análise, o que é necessário para se ser um bom actor/actriz?
Huum, quão difícil é a pergunta. Mas é assim, eu penso que para alguém poder tornar-se em um bom actor é necessário muito ensaio à semelhança dos bailarinos. Os bailarinos ensaiam quase sempre para poder manter o corpo em forma. O actor também deve ensaiar sempre, assistir as actuações de outras pessoas e ler muito para não ficar desactualizado, acrescentou a entrevista.

Que projectos tem na manga para este ano (2016)?
O meu maior projecto ou desafio tem a ver com a defesa da minha monografia (risos). Quando nós defendemos apresentamos trabalho teórico e prático. Já estou a trabalhar nisso para que tudo dê certo ainda no primeiro semestre do ano.
Que pergunta gostava de responder que não foi colocada?

Huuummm… Sufaida Moiane apela todas as pessoas que têm vocação de roubar, violentar os outros, trair parceira(o), para engrenar no mundo do teatro, no teatro tudo é permitido e nenhuma acção leva o indivíduo à prisão.

CRONICANDO SOBRE AS FEIRAS DO LIVRO E FESTIVAIS LITERÁRIOS

Na semana finda, a província de Gaza concretamente na Praça do Conselho Municipal de Xai-Xai e na Vila Municipal de Macie viveu-se um momento inédito e de muita glamor. Trata-se da primeira feira do livro para os munícipes da Vila de Macie e o primeiro Festival Internacional da Poesia para os da cidade de Xai e Xai.
A feira do livro foi promovida pelo Fundo Bibliográfico da Língua Portuguesa (FBLP) no quadro das suas obrigações e o Festival Internacional de Poesia tinha como foco ao lançamento de livros, palestras, artesanato, concurso de poesia e muito mais. Este evento inseriu-se no âmbito das comemorações do vigésimo ano da Associação Cultural Xitende.
Os dois eventos (literários) decorreram em simultâneo porém em lugares diferentes. Um estando longe do outro procurava, à sua maneira, promover a maior circulação e acesso ao livro assim como ao incentivo pelo gosto à leitura.
Pelos ecos que invadiam os meus ouvidos e pela quantidade de imagens que inundavam à tela do ecrã da conta do Facebook,  arrisco-me a afirmar que os eventos “bateram”
É de louvar quando as associações e entidades governamentais aparecem a promover eventos desta natureza, principalmente se forem em zonas em que há escassez da circulação do livro e de escritores que dão vida a nossa literatura.
No entanto, tanto na Vila de Macie assim como na Cidade de Xai e Xai, os eventos já terminam e a questão que se coloca é do tipo:
Doravante, quem regará a semente que por lá foi lançada afim de germinar? Dito por outras palavras: Quem dará o devido seguimento e acompanhamento aos adolescentes e jovens que se interessaram pela literatura durante o evento? E aonde encontrar os livros que estiveram expostos no espaço do Conselho Municipal da Cidade de Xai-Xai e na Vila Municipal de Macie?
A literatura não deve ser prisioneira de uma ou duas associações que, muitas vezes, realizam saraus culturais com vista ao cumprimento do calendário ou celebração de uma data como dia mundial de poesia, livro etc.


Portanto, as noites de poesia, festivais, concursos literários, lançamento e feiras de livros devem constituir a base de um projecto das associações culturais, do Ministério da Cultura e Turismo, Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano entre outros organismos que operam no ramo da promoção do livro e do incentivo do gosto pela leitura, a semelhança do Debate Artes e Cultura que se compromete em promover o gosto pela leitura através do jornal.

MULHER MOÇAMBICANA É AQUELA QUE REPRESENTA O GARANTE DA UNIÃO INTER-FAMILIAR

Celebrou-se ontem, o 7 de Abril, dia da mulher moçambicana. Em todo quadrante do mundo, a mulher desempenha um papel preponderante para o bem do Homem e da sociedade.
Em Moçambique, existe a mulher rural e urbana e elas distinguem-se em ser sofredoras, trabalhadoras, batalhadoras, heroínas conhecidas e anónimas, enfim, é caso para se afirmar que em Moçambique existe todo tipo de mulher. Algumas delas como Rosa Langa dedicam-se às artes e em particular à literatura.
Rosa Langa é uma das poucas mulheres que por meio da palavra insta a mulher moçambicana a ser persistente no que diz respeito a secular luta na procura e na afirmação da igualdade dos seus direitos em relação aos do homem, bem como assegurar todas as conquistas até logradas sobre os direitos da mulher.

É acerca dessa grande mulher do sorriso sempre no rosto que nas próximas linhas da coluna deste jornal, o caro leitor viajará pelo misterioso mundo da mulher e em particular ao mundo da mulher moçambicana através da entrevista por ela concedida.

1-    Boa parte das suas obras leva-nos a viajar pelo mundo da mulher. Será algo natural ou é resultado de uma inspiração que tem sobre a mulher?
Trata-se de uma inspiração. Através delas inseridas nos vários extractos sociais particularmente as rurais, nutro nelas um acarinhamento especial e único motivo que me leva a reportar às suas vivências mergulhadas num "pote" em que incubam as suas alegrias, tristezas e sonhos que inúmeras vezes terminam virtualmente nas suas caminhadas ao rio quando lá vão lavar a sua roupa.

2-    Assim que as suas obras abordam exclusivamente sobre a mulher, como que a Rosa descreve a mulher moçambicana?
Mulher mãe amiga, companheira, educadora, confidente inúmeras vezes, conselheira, aquela que representa o garante da união inter-familiar. Mulher batalhadora que vem de longe desde os tempos idos em que combateu lado a lado com o homem durante o processo da luta para a libertação do nosso país. Hoje, ela ganhou espaço especial em vários sectores e em particular no governo, sendo o país em África com maior representatividade no governo. A independência destas heroínas, reflecte-se em vários ângulos de acções concretas cujas suas contribuições recaem ao desenvolvimento desta bela nação.

3-  Nas suas obras estão reflectidas drama e sentimentos de uma mulher sofredora e batalhadora. Neste sentido, podemos considerar a sua escrita como um desabafo a favor da mulher em detrimento do homem?
Não que esteja contra a ala masculina mas esta mulher anónima precisa de um amparo. Sou o seu trampolim que ao descair suavemente no seu desabafo, me encontra pronta para ampara-la. Não que eu tenha soluções, mas apenas gestos de acarinhamento que as deixa felizes no seu pequeno mundo de sonhos engolidos pelas inúmeras dificuldades de vida sofrida.

4-   Que análise faz acerca do papel que hoje é assumido pelas mulheres no domínio social, económico até político tendo em conta a ideia da emancipação da mulher e da equidade do género?
A emancipação da nossa mulher é de longe comparada aos outros países. Estamos muito avançadas comparativamente aos países de África e parte de alguns da Europa, Ásia e América. O seu empenho nestas áreas, é evidente pois, a sua entrega na luta que se trava no país pelo desenvolvimento sócio-económico, político e cultural, são uma pura realidade.

5-  Embora as mulheres clamem pela emancipação e equidade do género, constata-se, em larga medida, que os seus desafios continuam sendo discutidos por homens. Que comentário faz acerca deste fenómeno.
A necessidade da mudança de consciência na nossa sociedade para que haja respeito entre ambos em primeiro. A não interferência não tomada de decisões. Muitos homens infelizmente ainda são machistas e pautam por esta firmeza

6-    Quando publicou em 2005 a sua primeira obra sobre Moçambique, mulher e vida havia em si o compromisso de escrever exclusivamente sobre a mulher?
Foi uma decisão definitiva e que hoje dou jus à iniciativa como forma de solidarizar-me com elas trazendo a superfície relatos reais de histórias vivenciadas.

7-   Inconfidência dos homens é uma obra que revela as íntimas confidências dos homens. Que pretensão tinha ao escrever essa obra tão emblemática?
Todos sabem (ou quase todos), que quando a rapariga perde a virgindade, quais as reacções, o que ocorre durante o acto, etc. Relativamente aos nossos homens, constituiu tabu até então. Pouco se fala a este respeito. Por exemplo quando, com quem, o que sentiu na sua primeira relação sexual, foi ou não com mulher idosa, parente, etc, a ala masculina fecha-se em "copas". A curiosidade foi mais forte em mim...

8-   Na obra inconfidências dos homens são identificados muitas personagens com nomes conhecidos e na obra Moçambique mulher e vida algumas mulheres aparecem anónimas. Porquê esse contraste?
Belas, pediram encarecidamente omiti-las. Respeitei.

Mini biografia
Rosa Langa, de 45 anos, nasceu no distrito de Chibuto, Gaza. É uma mulher bastante conhecida nos meandros do jornalismo e literatura moçambicana e é apelidada como sendo a feminista pois as suas obras versam exclusivamente sobre as virtudes e dilemas que são enfrentados pela mulher no seu dia-a-dia.
Em 2005 lançou a obra Moçambique, Mulheres e Vida. Esta é uma obra que narra os episódios de diferentes mulheres da sociedade moçambicana. Nela
há depoimentos na primeira pessoa de mulheres anónimas e heroínas como Lurdes Mutola, Luísa Diogo, Janet Mondlane e Graça Machel.

Em 2008 publicou As inconfidências dos homens. Esta obra resulta da colecção de 27 entrevistas feitas a diferentes individualidades masculinas. Através de temas da sexualidade masculina como: relações com prostitutas, circuncisão, os sentimentos da primeira experiência, a utilização ou não de preservativo e relações ocasionais. A obra apresenta a visão que os homens têm da mulher. Por ser uma obra emblemática,  ela integra uma antologia das nações unidas intitulada: América do Sul e África: Um olhar próprio, livros para conhecer dois continentes
Recentemente, Rosa Langa lançou a obra Mulher, Água e Saneamento. Este é um livro que reúne histórias verídicas e depoimentos e o drama vivido pelas mulheres na busca de água em vários cantos do nosso país.

CONFISSÕES
Qual é a tua maior qualidade?
Delicadeza e dignidade
E o teu maior defeito?
 Ouvir a TV em volume muito baixo o que irrita a muitos de casa, beber bastante chá  e muitas vezes sem açúcar
A coisa mais importante num homem?
Franqueza, poder intelecto, saber ser amigo e confidente à mistura com o dom de saber escutar e compreender a parceira
E numa mulher?
Força de determinação e lealdade, o companheirismo sempre presente.
O que é que mais aprecias nos teus amigos.
Simplicidade e a questão deles saberem estar presentes nos momentos de alegria e aflição
A tua actividade favorita é....
A de jornalismo
Qual é a tua ideia de felicidade?
Compara-se a saúde. Se não sentes a falta dela significa que a felicidade está presente. É poder se se orgulhar de tudo que conquistou sem remorsos de ter prejudicado ou magoado alguém.
O que seria a maior das tragédias?
Um tsunami em que todos perdemos a vida
Quem gostarias de ser, se não fosses tu mesmo?
Não faço a ideia mínima
E onde gostarias de viver?
Moçambique, hoje, amanhã é sempre
Qual é a tua cor favorita?
Multicolor (rubialac) exceptuando o preto é o branco (detesto)
E a flor?
Rosa
E a ave?
Papagaio
Os teus actores/actrizes preferidos?
Em Moçambique muitos e no estrangeiro James Bond (007)
E os filmes de que mais gostas?
De princesas e príncipes em forma de quadradinhos e o reino animal
Quem são os teus heróis de ficção?  
Alguns
E as heroínas?  
Algumas
A tua música favorita é... muitas
E os músicos de que mais gostas?
Muitos
Quem são as tuas heroínas na vida real?
A minha mãe falecida porque passou por várias situações para conseguir manter-nos na escola e colocar comida na mesa todo o santo dia. Ela foi uma verdadeira heroína
E os heróis?
Alguns
Qual é a tua palavra favorita?
Compreensão
O que é que mais detestas?
A mentira
Quais são as personagens históricas que mais desprezas?
Não faço ideia
Quais os dons da natureza que gostarias de possuir?
A capacidade de decifrar todas as mentes dos seres humanos e animais (risos)
Como gostarias de morrer?  
A dormir e sem dor
Agora, já, como estás a sentir-te?  Tranquila
Que defeito é mais fácil perdoares?
 Imaturidade
Qual é o lema da tua vida?

 "Plante boas acções para colheres vitórias’’


A LOUCURA DO FIM DO DIA




Após ter suportado o ardente sol que se fazia sentir na manhã do dia 28.10.2015, na companhia de colegas e alguns amigos do bairro, José abandonou a sombra da frondosa árvore da sua escola em direcção à casa. Chegado à paragem, indivíduos de diferentes origens inundavam o local, aguardando pelo transporte semi-colectivo que já demorava há algumas horas. Nesse dia, a falta de transporte era tão notória que os movimentos literários em alguns pontos desta pátria amada.
No entanto, a vinda do primeiro carro deu-se por voltas das 6h e meia da tarde. Bem embalados, os dois mini buses reduziram drasticamente a velocidade. O primeiro parou e não levou ninguém. O segundo parou e areou uma média de 4 passageiros mas, mesmo assim, continuava demasiado cheio.
Repentinamente, surgiu um outro mini bus que colocou na corrida toda a gente que por ali se distraía com conversas alheias, incluindo os agentes da polícia. Antes de as rodas pararem de girar, a multidão ia entrando pela janela de vidro furado. Durante esse cenário, uma jovem mulata farejava os bolsos das calças do transeunte que se encontrava à sua frente. Logo que as rodas terminaram de girar, com voz rouca, o cobrador disse:
– Não vê que não estou a carregar?!
A multidão indignou-se e, imediatamente, alguns passageiros mudaram de conversa. E uma senhora que já se encontrava junto à porta da frente, em tom de vuvuzela, perguntou ao motorista: – Meu filho, por que parou se não está para carregar?
O motorista, todo sério, como quem pretende dizer algo útil, respondeu e disse:
– E daí!?
Assim foi satisfeita à curiosidade da senhora.
“Realmente, este país tem dono”, este foi o sentimento partilhado por um ancião que acabava de assistir a mais um punhado de gente que ia sendo escoltada de frente e de trás em carros de luxo.
“Esses são alguns daqueles moçambicanos que se escondem dos outros moçambicanos”, lamentava a moça da blusa vermelha que também se encontrava pendurada pelo mesmo motivo. “Sim, é essa gente que, no período da campanha eleitoral, em uníssono, dizia-nos: ‘‘ votem no nosso partido… o melhoramento e aumento do acesso ao transporte público é uma das nossas prioridades e assim que lhes introduzimos ao poder, hoje finge que já não nos conhece” acrescentou o José!
Naquela noite, a avenida da Praça da OMM foi caracterizada por uma enorme escassez de transporte. Nem os vulgos my loves que por ali passavam conseguia aliviar a demanda da população que tudo tinha feito para estar, em tempo útil, nos seus tectos.
Nos semblantes de alguns passageiros, a preocupação quanto ao regresso à casa não parava de crescer e o José mostrava-se mais preocupado equiparando-se a um recluso-inocente quando já tem em mão a ordem de soltura pronta.
Para o alívio do desespero da maioria, um verde automóvel que vinha de Compone para museu virou, tendo-se posicionado logo à sua frente. Antes de o cobrador gritar aos ouvidos da multidão, todos passageiros fizeram-se ao automóvel. Quando chegou a vez de José subir, o cobrador, simplesmente disse:
– Brow, não vês que o carro já está full!?
- …!? Vou afinar-me, cobrador!
- Não brow, Há polícia por aí.
E no mesmo instante, o cobrador chamou uma moça que se encontrava à 50 metros de distância do chapa.
– Maninha, maninha, que tal, não vais?
– Vou…
(– Leva!)
– Rápido, então!
– Abre a porta, man…
– Afinal é uma baybona, revelou o motorista.
Face à estranha atitude do cobrador, José revoltou-se por completo. Por pouco, caíam as suas lágrimas. Segurou-se! Certamente lembrou-se do trecho da música angolana: as lágrimas do homem nunca caem em vão!
Posto a isso, José recuou dois passos e poisou-se sobre uma pedra angular. De, repente, ouviu um assobio do Fabião, amigo de infância. Levantou-se e foi abraçá-lo, longamente e fraternamente. O Fabião, que de Fabião nada tinha, retribuiu-o demoradamente.
A escassez de transporte fez com que conversassem sobre um pouco de tudo e de tudo um pouco. Desde a situação político-militar do país, à má prestação dos mambas nos jogos de qualificação ao Campeonato Africano das Nações, Gabão 2017.
Instantaneamente, numa velocidade estrondosa apareceram dois autocarros que vestiam as faixas de Museu-Magoanine. E José se despediu do Fabião com intenção de ver a última parte do serviço noticioso. Novamente, correu atrás de um deles, tendo alcançado o segundo.
Da praça da OMM à Imaculada levou apenas 17 minutos. Logo que desceu, apressou-se. Porém, um outro amigo interpela-o e diz:
– E aí, man? Sumido! Qual é a cena?
– ‘Stou good, brow! São desencontros!
– Respondeu a um passo galopante.
Chegado à casa, arrombou o portão, pois a casa estava às escuras. Em fracções de segundos, introduziu-se ao quintal e dirigiu-se ao quarto. Respirou 3 vezes e descarregou o fardo de livros que trazia sobre as costas. Momentaneamente, deitou-se na cama e enfiou os olhos ao calendário que havia sido afixado numa das paredes.
Num olhar tenebroso, deu-se conta que a data daquele dia lhe despertava alguma memória, embora silenciada. Francisco Cossa, um dos heróis da pátria amada que encontrou a sua morte na tragédia de Xilongué, que semeou muitas vidas humanas, incluindo adolescentes e crianças.
Antes do término do noticiário, José saiu do quarto e passou pela cozinha para refrescar a garganta que se queixava pela sede e dirigiu-se posteriormente para sala de visita e, cuidadosamente, acompanhou o resto do noticiário.
Antes do intervalo, por sinal, o último da noite, o apresentador rematou:
 “Literatura Moçambicana – Da Ameaça do Esquecimento à Urgência do Resgate”
 Acompanhe o desenvolvimento desta e outras notícias já a seguir aqui no primeiro canal da televisão de Moçambique.
Em pouco tempo, José encolheu os ombros, agrupou as ancas, esticou as orelhas e mergulhou nas ondas do ecrã do televisor para acompanhar à notícia e reportagem de destaque.
(…)
Boa noite e sejam bem-vindos à terceira parte do telejornal.

 Literatura Moçambicana – Da Ameaça do Esquecimento à Urgência do Resgate” é o título da mais recente obra de Albino Macuácua, Lucílio Manjate e Osvaldo das Neves, lançada hoje em Maputo. Assim termina a presente edição do telejornal referente aos vinte e oito dias do mês de Outubro de 2015!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

OS TEMPOS JÁ SÃO OUTROS!


Nos tempos em que nasceram e viveram os nossos bisavôs, avôs e pais, a quantidade de chuva que caía sobre a planeta terra era escassa. Mas mesmo assim, bastava que caísse um pouco por toda zona, as faces transbordavam-se de alegria, pois, naquela altura, os campos de produção agrícola serviam da base de sobrevivência para muitas e numerosas famílias.

Quando o céu fosse coberto de cúmulos (nuvens que formam a chuva), o líder comunitário do bairro, de forma urgente, emitia um comunicado aos moradores para o lavrar-se da terra e posteriormente jogar-se nela as sementes. Isto era feito na esperança de obter-se, na época de colheita, uma boa cultura de milho, amendoim e mandioca, só para citar alguns exemplos.

Hoje, realmente os tempos são outros. Tal como se sabe, a chuva já perdeu o seu valor natural. No lugar de fazer crescer as sementes nas irrigações de campos de produção agrícolas e incrementar o desenvolvimento sócio económico do país, ela tem caído para destruir o pouco que com o enorme sacrifício já havia sido construído. 

Actualmente, a chuva aparece em abundância nos locais, dias e horas em que menos se espera e provoca danos de vária ordem. Em todo lado, são destruições de hectares de milho nas irrigações de campo de produção agrícolas, desabamento de diversas infra-estruturas, aumento de intransitabilidade de vias de acesso, famílias encurraladas e desalojadas. 

Entretanto, no seio das famílias aumentam as correrias de um lado para outro em busca de algum abrigo. Nas mentes das famílias surgem inquietações do tipo: como dormir e acordar no dia seguinte? E ao serviço, como chegar-se-á com o incontornável tráfego na estrada? Enfim, é uma série de perguntas sem respostas imediatas e nem satisfatórias.

Nos dias que correm, tanto se fala do fim do mundo. Será que as águas de chuva que caem em grandes proporções estarão a anunciar o tal fim!? 
Depois da queda de chuva, o Instituto de Gestão de Calamidades Naturais, através dos órgãos de comunicação social, dá um discurso de alívio que, basicamente, se centra no apelo ao abandono das zonas de riscos, isto é, zonas propensas a quaisquer inundações.

Portanto, antigamente previa-se e interpretava-se a chuva, e a sua previsão, embora previsão, dificilmente falhava, hoje, parece que a Homem já não detem de capacidades suficientes para interpretar e compreender o nível das águas e seca que assolam a população mundial.




BREVE OLHAR DO NOVO REGULAMENTO DOS EXAMES ORDINÁRIOS DA 2ª, 10ª E 12ª CLASSE






O currículo do ensino geral moçambicano acaba de sofrer mais uma alteração. Trata-se da introdução de exames na segunda classe. De referir que, desde o ano de 2010, o processo de exames ordinários tem sido marcado por uma série de alterações. Por vezes, tais alterações geram uma onda de descontentamento no seio dos actores educativos.

A primeira alteração de exames ordinários foi estabelecida para a 12ª classe e advogava a realização de 5 disciplinas no lugar de 7. Deste modo, cabia ao próprio aluno escolher as duas disciplinas que por ele não gostaria que fossem realizadas, bastando apenas ter uma nota igual ou superior a 9.

No entanto, seguiu-se a abolição de exame da disciplina de Desenho da 10ª classe. Em Março deste ano, por parte do actual executivo, houve a pretensão da eliminação de exames da 5ª classe, cuja pretensão não foi recebida do bom agrado pela sociedade moçambicana.

À respeito dessas alterações, decidi escrever este artigo, embora pequeno em suas linhas mas grande em conteúdo e relevância do mesmo, com intuito de partilhar o meu sentimento.
Em Moçambique, muitos estudos realizados sobre a eficácia do ensino básico concluem que o actual aluno do nível primário chega a terminar este subsistema sem saber ler e nem escrever, embora essas habilidades e competência de leitura e escrita apareçam definidas como objectivos a serem alcançados no primeiro ciclo de aprendizagem, PCEB, (2008: 24).

Face ao exame realizado da segunda classe são levantadas as seguintes questões: Qual foi o nível de vigilância prestado pelos professores num aluno que, de antemão, não sabe ler e nem escrever? Como é que esse aluno procedeu com a interpretação do texto e resolução do exame? Por fim, qual foi o grau da eficácia verificada nos exames da segunda classe?

Quanto aos exames da 10ª e 12ª classe, no lugar de fazer todas disciplinas fez-se apenas 5. Daí que surge a inquietação do tipo: Que critério foi usado para a selecção das tais disciplinas e ao nível médio, qual é o perfil de graduado que se pretende formar?

De frisar que, o aluno da secção de letras foi proibido de efectuar o exame de história, e em contrapartida, nas instituições públicas do ensino superior lecciona-se uma média de 40% dos cursos de letras. Para o seu acesso é imperioso a realização do exame de história. Perante este cenário, a questão do fundo é: Qual tem sido o nível da articulação entre o regulamento dos exames do ensino secundário e superior em Moçambique?


Para terminar, o meu sincero agradecimento a Excia Ministro da Educação porque, incansavelmente, tem manifestado o interesse de rever-se a lei 6/92 de 4 de Março. Dessa revisão esperamos que se limpe por completo a poeira que contribui para que em alguns pontos do país se forme os analfabetos funcionais Castiano, (2005) e futuros desempregados instruídos, Cipriano (2013).