Entre os anos de carreira e os êxitos alcançados até então, nota-se em
Sufaida Moiane um desfasamento bastante largo. Sufaida Moiane é uma actriz
moçambicana, de 25 anos de idade, estudante do curso do teatro na Escola de
Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane e tem estado a participar
em gravações de filmes e radionovelas desempenhando, muitas vezes, o papel de
personagem principal. A
actriz revelou que já partilhou os mesmos palcos com atores sonantes do teatro
nacional até internacional.
Durante a sua infância, já sonhava com a arte de representar?
Fazer teatro nunca passou pela minha cabeça. Quando eu frequentava o ensino
primário, gostava de desenhar bonecos e punha-lhes a conversar como se fossem
marionetes. Nessa altura, não pensava no teatro, pior porque não cresci com
acesso directo à televisão, comecei a ver televisão na fase da adolescência. Eu
cresci a ouvir rádio, principalmente as radionovelas, os famosos Mabulo ya Kuya
Kana e cena aberta. Portanto, não imaginava que um dia pudesse ser actriz tal
como sou hoje.
No sistema educativo moçambicano, a arte e em particular o teatro não é
muito reflectido nos manuais didácticos. O que motivou a Sufaida a seguir o
curso de teatro em nível superior?
Uff! É uma história muito longa mas vou tentar resumir. Na oitava classe,
numa das aulas da disciplina de Português o professor trouxe um texto narrativo
e mandou a turma transformar em texto dramático. Em seguida, eu fiz alguma
representação e ele gostou. No mesmo ano, participei num projecto direccionado
à saúde sexual reprodutiva. O financiador do projecto era o Fundo do
Desenvolvimento Comuniário (FDC) e denominava-se KULHUVUKA. À dado momento, o
projecto não teve mais financiamento, no entanto, eu e alguns membros do grupo
decidimos criar um grupo teatral chamado PFUKA HI FAMBA. Eu (Sufaida Moiane),
era a única menina do grupo, porém, actuava, escrevia e encenava as peças.
Quando conclui o nível médio, fiquei sabendo que na Universidade Eduardo
Mondlane leccionava-se um curso de teatro. Consultei algumas pessoas mais
próximas à mim para saber se podia ou não fazer o curso e muita gente não
esteve a favor do teatro. Mas porque eu queria fazer teatro não desisti, fui à
luta.
O fazedor de arte é sempre inspirado e encorajado por alguém. Quais são as
suas referências?
Sem gaguejar, Sufaida Moiane mencionou nomes de Lucrécia Paco e Mário
Mabjaia. No dia em que conheci Lucrécia Paco fiquei com a cara dela. O mesmo
aconteceu com Mário Mabjaia, quando pela televisão vi as publicidades que ele
fazia. Mário Mabjaia é o actor que está no centro da minha cabeça, até porque
já tive a oportunidade de actuar com ele. Estes actores são as minhas
principais referências. Existem outros que não são famosos, alguns porque vivem
na diáspora como é o caso de Magacela, que só aparece quando há festivais de
teatro ou gravações de filmes.
O que significa para si fazer teatro em Moçambique dado ao contexto
político, social, económico e cultural do país?
Para mim, fazer teatro em Moçambique é um desafio, mas um desafio a ser
superado a cada dia. É muito difícil seguir as artes em Moçambique, sobretudo o
teatro, não porque seja o meu mundo. Os actores de teatro dependem muito dos
terceiros, dependem da disponibilidade dos espaços e do público. Ao passo que
os músicos não, basta entrarem num determinado estúdio e gravarem uma música e
minutos depois bombam nas rádios, televisões, etc. O teatro não permite isso,
teatro é uma coisa viva e presencial, é aqui e agora. Repito, fazer teatro em
Moçambique é um desafio, mas um desafio a ser superado a cada dia.
Em 2013, Sufaida Moiane participou numa radionovela denominada: Dilema de
uma geração encruzilhada. Como se sentiu durante a gravação dessa novela?
Dilema de uma geração encruzilhada é uma novela que pertence a rádio
capital. Com essa novela, entrei no estúdio pela primeira vez e tive de
aprender a falar e transmitir emoções/sentimentos pelo microfone. Foi uma boa experiência, pois no mesmo ano,
gravei outra novela, Fatias da Vida. Nessa novela fui convidada para
desempenhar um dos papéis mais importantes, a protagonista. Infelizmente,
troquei do papel porque na altura tinha uma série de ocupações.
Dentre os bons momentos que marcam a sua carreira, destaca-se a
participação na peça denominada Incluarte: realidades e sonhos. À pedido do
público, a peça chegou a ser exibida mais de duas vezes. Que impacto teve essa
peça na sua carreira?
Ah meu Deus! O casting para a minha participação nessa peça decorreu em
plena Sexta-Feira santa. Foi algo muito difícil para mim, pois precisava-se de
um pouco de tudo (bailarinos, mímicos, cegos). Por sorte, fui apurada e eu era
a única actriz no meio de pessoas com deficiência física e visual. Foi bom pois
partilhei o mesmo palco com pessoas que nunca imaginava como é o caso da
bailarina Mariana. Nessa peça aprendi a dançar, cantar, gesticular e falar
muito pouco o que não é comum no teatro.
Quais foram os momentos mais altos e baixos da sua carreira?
(Risos). O momento alto de todos foi quando participei no Festival do
teatro realizado no rio de Janeiro (Brasil) em 2014, para além de actuar como
actriz, gravei um filme. Confesso que me foi difícil gravar o filme. No teatro
nós aprendemos a construção de personagens, aprendemos que temos que falar as
coisas com toda naturalidade diferentemente do filme. No filme, algumas coisas
são feitas pelas cameras, exemplo, o sentimento do actor.
Quanto aos momentos baixos da minha carreira, foram vários, (pausa). Por
exemplo, no ano passado actuei com a Companhia Teatral Mutombela Gogo na peça
denominada os meninos de ninguém, e tive imensas dificuldades em encarnar
algumas personagens pois exigia-se de mim algo que nunca tinha estudado na
escola.
Na sua análise, o que é necessário para se ser um bom actor/actriz?
Huum, quão difícil é a pergunta. Mas é assim, eu penso que para alguém
poder tornar-se em um bom actor é necessário muito ensaio à semelhança dos
bailarinos. Os bailarinos ensaiam quase sempre para poder manter o corpo em
forma. O actor também deve ensaiar sempre, assistir as actuações de outras
pessoas e ler muito para não ficar desactualizado, acrescentou a entrevista.
Que projectos tem na manga para este ano (2016)?
O meu maior projecto ou desafio tem a ver com a defesa da minha monografia
(risos). Quando nós defendemos apresentamos trabalho teórico e prático. Já
estou a trabalhar nisso para que tudo dê certo ainda no primeiro semestre do
ano.
Que pergunta gostava de responder que não foi colocada?
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