terça-feira, 31 de maio de 2016

UMA PROMISSORA ACTRIZ MOÇAMBICANA CHAMADA SUFAIDA MOIANE


Entre os anos de carreira e os êxitos alcançados até então, nota-se em Sufaida Moiane um desfasamento bastante largo. Sufaida Moiane é uma actriz moçambicana, de 25 anos de idade, estudante do curso do teatro na Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane e tem estado a participar em gravações de filmes e radionovelas desempenhando, muitas vezes, o papel de personagem principal. A actriz revelou que já partilhou os mesmos palcos com atores sonantes do teatro nacional até internacional.

Durante a sua infância, já sonhava com a arte de representar?
Fazer teatro nunca passou pela minha cabeça. Quando eu frequentava o ensino primário, gostava de desenhar bonecos e punha-lhes a conversar como se fossem marionetes. Nessa altura, não pensava no teatro, pior porque não cresci com acesso directo à televisão, comecei a ver televisão na fase da adolescência. Eu cresci a ouvir rádio, principalmente as radionovelas, os famosos Mabulo ya Kuya Kana e cena aberta. Portanto, não imaginava que um dia pudesse ser actriz tal como sou hoje.

No sistema educativo moçambicano, a arte e em particular o teatro não é muito reflectido nos manuais didácticos. O que motivou a Sufaida a seguir o curso de teatro em nível superior?

Uff! É uma história muito longa mas vou tentar resumir. Na oitava classe, numa das aulas da disciplina de Português o professor trouxe um texto narrativo e mandou a turma transformar em texto dramático. Em seguida, eu fiz alguma representação e ele gostou. No mesmo ano, participei num projecto direccionado à saúde sexual reprodutiva. O financiador do projecto era o Fundo do Desenvolvimento Comuniário (FDC) e denominava-se KULHUVUKA. À dado momento, o projecto não teve mais financiamento, no entanto, eu e alguns membros do grupo decidimos criar um grupo teatral chamado PFUKA HI FAMBA. Eu (Sufaida Moiane), era a única menina do grupo, porém, actuava, escrevia e encenava as peças. Quando conclui o nível médio, fiquei sabendo que na Universidade Eduardo Mondlane leccionava-se um curso de teatro. Consultei algumas pessoas mais próximas à mim para saber se podia ou não fazer o curso e muita gente não esteve a favor do teatro. Mas porque eu queria fazer teatro não desisti, fui à luta.

O fazedor de arte é sempre inspirado e encorajado por alguém. Quais são as suas referências?

Sem gaguejar, Sufaida Moiane mencionou nomes de Lucrécia Paco e Mário Mabjaia. No dia em que conheci Lucrécia Paco fiquei com a cara dela. O mesmo aconteceu com Mário Mabjaia, quando pela televisão vi as publicidades que ele fazia. Mário Mabjaia é o actor que está no centro da minha cabeça, até porque já tive a oportunidade de actuar com ele. Estes actores são as minhas principais referências. Existem outros que não são famosos, alguns porque vivem na diáspora como é o caso de Magacela, que só aparece quando há festivais de teatro ou gravações de filmes.

O que significa para si fazer teatro em Moçambique dado ao contexto político, social, económico e cultural do país?

Para mim, fazer teatro em Moçambique é um desafio, mas um desafio a ser superado a cada dia. É muito difícil seguir as artes em Moçambique, sobretudo o teatro, não porque seja o meu mundo. Os actores de teatro dependem muito dos terceiros, dependem da disponibilidade dos espaços e do público. Ao passo que os músicos não, basta entrarem num determinado estúdio e gravarem uma música e minutos depois bombam nas rádios, televisões, etc. O teatro não permite isso, teatro é uma coisa viva e presencial, é aqui e agora. Repito, fazer teatro em Moçambique é um desafio, mas um desafio a ser superado a cada dia.

Em 2013, Sufaida Moiane participou numa radionovela denominada: Dilema de uma geração encruzilhada. Como se sentiu durante a gravação dessa novela?

Dilema de uma geração encruzilhada é uma novela que pertence a rádio capital. Com essa novela, entrei no estúdio pela primeira vez e tive de aprender a falar e transmitir emoções/sentimentos pelo microfone. Foi uma boa experiência, pois no mesmo ano, gravei outra novela, Fatias da Vida. Nessa novela fui convidada para desempenhar um dos papéis mais importantes, a protagonista. Infelizmente, troquei do papel porque na altura tinha uma série de ocupações.

Dentre os bons momentos que marcam a sua carreira, destaca-se a participação na peça denominada Incluarte: realidades e sonhos. À pedido do público, a peça chegou a ser exibida mais de duas vezes. Que impacto teve essa peça na sua carreira?

Ah meu Deus! O casting para a minha participação nessa peça decorreu em plena Sexta-Feira santa. Foi algo muito difícil para mim, pois precisava-se de um pouco de tudo (bailarinos, mímicos, cegos). Por sorte, fui apurada e eu era a única actriz no meio de pessoas com deficiência física e visual. Foi bom pois partilhei o mesmo palco com pessoas que nunca imaginava como é o caso da bailarina Mariana. Nessa peça aprendi a dançar, cantar, gesticular e falar muito pouco o que não é comum no teatro.

Quais foram os momentos mais altos e baixos da sua carreira?
(Risos). O momento alto de todos foi quando participei no Festival do teatro realizado no rio de Janeiro (Brasil) em 2014, para além de actuar como actriz, gravei um filme. Confesso que me foi difícil gravar o filme. No teatro nós aprendemos a construção de personagens, aprendemos que temos que falar as coisas com toda naturalidade diferentemente do filme. No filme, algumas coisas são feitas pelas cameras, exemplo, o sentimento do actor.
Quanto aos momentos baixos da minha carreira, foram vários, (pausa). Por exemplo, no ano passado actuei com a Companhia Teatral Mutombela Gogo na peça denominada os meninos de ninguém, e tive imensas dificuldades em encarnar algumas personagens pois exigia-se de mim algo que nunca tinha estudado na escola.  

Na sua análise, o que é necessário para se ser um bom actor/actriz?
Huum, quão difícil é a pergunta. Mas é assim, eu penso que para alguém poder tornar-se em um bom actor é necessário muito ensaio à semelhança dos bailarinos. Os bailarinos ensaiam quase sempre para poder manter o corpo em forma. O actor também deve ensaiar sempre, assistir as actuações de outras pessoas e ler muito para não ficar desactualizado, acrescentou a entrevista.

Que projectos tem na manga para este ano (2016)?
O meu maior projecto ou desafio tem a ver com a defesa da minha monografia (risos). Quando nós defendemos apresentamos trabalho teórico e prático. Já estou a trabalhar nisso para que tudo dê certo ainda no primeiro semestre do ano.
Que pergunta gostava de responder que não foi colocada?

Huuummm… Sufaida Moiane apela todas as pessoas que têm vocação de roubar, violentar os outros, trair parceira(o), para engrenar no mundo do teatro, no teatro tudo é permitido e nenhuma acção leva o indivíduo à prisão.

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