O dia mundial do teatro é celebrado aos vinte e sete do mês de Março de
cada ano. Esta data foi estabelecida pela Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, (UNESCO) em 1961 com vista
a maior promoção do teatro. O teatro é a arte de expor sentimentos e emoções no
palco diante de um determinado público.
A propósito desta efeméride, Maria Josefina Armando Massango, ou
simplesmente Josefina Massango, actriz, docente, investigadora e directora do
curso do teatro na Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo
Mondlane falou ao Debate acerca do estilo, riscos e desafios do teatro em
Moçambique.
Crescêncio Manhique (CM):
Que tipo de perfil é necessário para se ser um actor de referência?
Josefina Massango (JM):
Quão difícil é a pergunta (risos). No meu entender, não existe alguma
receita única e exclusiva para alguém se tornar um actor de referência. Para se
ser um bom artista, seja do teatro, dança, pintura, escrita é necessário que
haja no indivíduo algum talento e dedicação.
No que concerne ao teatro, iria considerar 4 elementos fundamentais que
indubitavelmente um actor deve possuir: rigor, humildade, disponibilidade e uma
visão ampla sobre as coisas e o mundo que o rodeia. No entanto, um actor
humilde estará sempre aberto para ouvir, acatar e gerir críticas, do contrário
não. Um actor que não está disponível por mais que tenha alguma opinião sobre
um determinado assunto não será capaz de sistematizá-la devido a sua
indisponibilidade.
CM: O teatro é a arte de representar
emoções e sentimentos quanto à uma determinada realidade. Olhando para os
fenómenos que marcam o actual mundo contemporâneo qual tem sido o seu real
papel o teatro?
JM: O teatro sendo a súmula da vida do ser
humano, o seu papel não é de resolver problemas mas sim é de informar ao
público e mostrar possíveis soluções quanto aos fenómenos que apoquentam a vida
de cidadãos que fazem parte de uma determinada sociedade.
CM: Ao longo do tempo, o teatro foi conotado como sendo uma arte de fazer
rir as pessoas. Que comentário se apraz tecer à respeito desta concepção?
JM: Huum, de facto muitas vezes o actor recorre
a diversão para gozar da liberdade que tem em representar algo com maior
naturalidade e sem nenhum preconceito, mas para além da comédia que enfatiza o
riso, também existe o teatro informativo, dramático, tragédia. Neste sentido, a
representação de uma peça em palco é que permite com que se tenha a ideia clara
do tipo de teatro que o actor segue.
CM: No teatro moderno tem sido frequente, um actor desempenhar mais de um
papel numa só peça. Que análise faz acerca desta realidade tendo em conta o
elevado nível de concentração que é exigido no palco?
JM: Há várias razões que posso aqui evocar,
por exemplo, a redução do tamanho de elenco, hospedagem, menos custos e
logística. Desempenhar vários papéis no teatro como trabalho de bastidores e de
palco numa só peça possibilita ao artista descobrir-se, a si mesmo, isto é,
descobre o seu potencial e só assim é que pode sentir-se cada vez mais artista.
CM: Que razões estariam por detrás da escassez de dramaturgos no teatro
moçambicano?
JM: Não há dúvida de que a maior parte dos
actores moçambicanos não explora muito o estilo da dramaturgia. Em Moçambique,
sempre existiu um estilo próprio de fazer teatro e que carece de ser estudado,
analisado e bem sistematizado.
A Universidade Eduardo Mondlane, através da Escola de Comunicação e Artes,
tem estado a formar estudantes em curso superior do teatro e num futuro breve
passaremos a consumir o Made in Mozambique.
CM: Costuma se dizer que em qualquer profissão há riscos. Quais são os
riscos da profissão do teatro em Moçambique?
JM: Fazer teatro em Moçambique é um risco
(…) pois ainda não há entendimento real acerca dessa arte. O teatro mexe com as
sensibilidades culturais, económicas, sociais e políticas e o actor dentro da
sua liberdade deve passar ideias e informações e que numa condição normal
dificilmente poder-se-ia efectuar.
Por outro lado, fazer teatro em Moçambique é um risco dado que o actor vive
de reinventar a sua vida. Ele deve, constantemente, recriar-se, e ser escravo
de si mesmo, isto é: do seu corpo, mente e ideias, razão pela qual que o
trabalho do actor não o permite alcançar um patamar desejável.
CR: Que avaliação faz acerca do estágio actual do teatro moçambicano?
JM: Esta é uma questão muito complexa e
ambígua, pois a avaliação pode cingir-se em vários aspectos, tais como: a
aceitação, produção, escrita, infra-estruturas, nível de consumo e satisfação
do público. Ora, vou me deter apenas num aspecto aqui elencado. Ao nível de
produção, eu considero que a oferta ainda não satisfaz ao número de
consumidores, se calhar é o facto de o teatro não ser uma actividade de massas. No
entanto, se analisarmos o estilo do teatro que é frequentemente feito em
Moçambique constataremos que tem sido o mesmo estilo, por sinal a comédia. A
comédia é um estilo que facilmente atrai o público diferentemente dos outros
géneros, pior porque no nosso país ainda não há uma política relativa à
actividade cultural.
Mini biografia da entrevistada
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