Celebrou-se ontem, o 7 de Abril, dia da mulher moçambicana. Em todo
quadrante do mundo, a mulher desempenha um papel preponderante para o bem do
Homem e da sociedade.
Em Moçambique, existe a mulher rural e urbana e elas distinguem-se em ser
sofredoras, trabalhadoras, batalhadoras, heroínas conhecidas e anónimas, enfim,
é caso para se afirmar que em Moçambique existe todo tipo de mulher. Algumas
delas como Rosa Langa dedicam-se às artes e em particular à literatura.
Rosa Langa é uma
das poucas mulheres que por meio da palavra insta a mulher moçambicana a ser
persistente no que diz respeito a secular luta na procura e na afirmação da
igualdade dos seus direitos em relação aos do homem, bem como assegurar todas
as conquistas até logradas sobre os direitos da mulher.
É acerca dessa grande mulher do sorriso sempre no rosto que nas próximas
linhas da coluna deste jornal, o caro leitor viajará pelo misterioso mundo da
mulher e em particular ao mundo da mulher moçambicana através da entrevista por
ela concedida.
1- Boa
parte das suas obras leva-nos a viajar pelo mundo da mulher. Será algo natural
ou é resultado de uma inspiração que tem sobre a mulher?
Trata-se de uma inspiração. Através delas inseridas nos vários extractos
sociais particularmente as rurais, nutro nelas um acarinhamento especial e
único motivo que me leva a reportar às suas vivências mergulhadas num
"pote" em que incubam as suas alegrias, tristezas e sonhos que
inúmeras vezes terminam virtualmente nas suas caminhadas ao rio quando lá vão
lavar a sua roupa.
2- Assim
que as suas obras abordam exclusivamente sobre a mulher, como que a Rosa
descreve a mulher moçambicana?
Mulher mãe amiga, companheira, educadora, confidente inúmeras vezes,
conselheira, aquela que representa o garante da união inter-familiar. Mulher
batalhadora que vem de longe desde os tempos idos em que combateu lado a lado
com o homem durante o processo da luta para a libertação do nosso país. Hoje,
ela ganhou espaço especial em vários sectores e em particular no governo, sendo
o país em África com maior representatividade no governo. A independência
destas heroínas, reflecte-se em vários ângulos de acções concretas cujas suas
contribuições recaem ao desenvolvimento desta bela nação.
3- Nas suas obras estão
reflectidas drama e sentimentos de uma mulher sofredora e batalhadora. Neste
sentido, podemos considerar a sua escrita como um desabafo a favor da mulher em
detrimento do homem?
Não que esteja contra a ala masculina mas esta mulher anónima precisa de um
amparo. Sou o seu trampolim que ao descair suavemente no seu desabafo, me
encontra pronta para ampara-la. Não que eu tenha soluções, mas apenas gestos de
acarinhamento que as deixa felizes no seu pequeno mundo de sonhos engolidos
pelas inúmeras dificuldades de vida sofrida.
4- Que análise faz acerca
do papel que hoje é assumido pelas mulheres no domínio social, económico até
político tendo em conta a ideia da emancipação da mulher e da equidade do
género?
A emancipação da nossa mulher é de longe comparada aos outros países.
Estamos muito avançadas comparativamente aos países de África e parte de alguns
da Europa, Ásia e América. O seu empenho nestas áreas, é evidente pois, a sua
entrega na luta que se trava no país pelo desenvolvimento sócio-económico,
político e cultural, são uma pura realidade.
5- Embora as mulheres clamem
pela emancipação e equidade do género, constata-se, em larga medida, que os
seus desafios continuam sendo discutidos por homens. Que comentário faz acerca
deste fenómeno.
A necessidade da mudança de consciência na nossa sociedade para que haja
respeito entre ambos em primeiro. A não interferência não tomada de decisões.
Muitos homens infelizmente ainda são machistas e pautam por esta firmeza
6- Quando publicou
em 2005 a sua primeira obra sobre Moçambique, mulher e vida havia em si o
compromisso de escrever exclusivamente sobre a mulher?
Foi uma decisão definitiva e que hoje dou jus à iniciativa como forma de
solidarizar-me com elas trazendo a superfície relatos reais de histórias
vivenciadas.
7- Inconfidência dos
homens é uma obra que revela as íntimas confidências dos homens. Que pretensão
tinha ao escrever essa obra tão emblemática?
Todos sabem (ou quase todos), que quando a rapariga perde a virgindade,
quais as reacções, o que ocorre durante o acto, etc. Relativamente aos nossos
homens, constituiu tabu até então. Pouco se fala a este respeito. Por exemplo
quando, com quem, o que sentiu na sua primeira relação sexual, foi ou não com
mulher idosa, parente, etc, a ala masculina fecha-se em "copas". A
curiosidade foi mais forte em mim...
8- Na
obra inconfidências dos homens são identificados muitas personagens com nomes
conhecidos e na obra Moçambique mulher e vida algumas mulheres aparecem anónimas.
Porquê esse contraste?
Belas, pediram encarecidamente omiti-las. Respeitei.
Mini biografia
Rosa Langa, de 45 anos, nasceu no distrito de Chibuto, Gaza. É uma mulher
bastante conhecida nos meandros do jornalismo e literatura moçambicana e é
apelidada como sendo a feminista pois as suas obras versam exclusivamente sobre
as virtudes e dilemas que são enfrentados pela mulher no seu dia-a-dia.
Em 2005 lançou a obra Moçambique,
Mulheres e Vida. Esta é uma obra que narra os episódios de diferentes
mulheres da sociedade moçambicana. Nela
há depoimentos na primeira pessoa de mulheres anónimas e heroínas como Lurdes
Mutola, Luísa Diogo, Janet Mondlane e Graça Machel.
Em 2008 publicou As inconfidências dos homens. Esta obra
resulta da colecção de 27 entrevistas feitas a diferentes individualidades
masculinas. Através de temas da sexualidade masculina como: relações com
prostitutas, circuncisão, os sentimentos da primeira experiência, a utilização
ou não de preservativo e relações ocasionais. A obra apresenta a visão que os
homens têm da mulher. Por ser uma obra emblemática, ela integra uma antologia das nações unidas intitulada: América do Sul e África: Um olhar
próprio, livros para conhecer dois continentes
Recentemente, Rosa Langa lançou a obra Mulher, Água e Saneamento. Este é um
livro que reúne histórias verídicas e depoimentos e o drama vivido pelas
mulheres na busca de água em vários cantos do nosso país.
CONFISSÕES
Qual é a tua maior qualidade?
Delicadeza e dignidade
E o teu maior defeito?
Ouvir a TV em volume muito baixo o que irrita a muitos de casa, beber
bastante chá e muitas vezes sem açúcar
A coisa mais importante num homem?
Franqueza, poder intelecto, saber ser amigo e confidente à mistura com o
dom de saber escutar e compreender a parceira
E numa mulher?
Força de determinação e lealdade, o companheirismo sempre presente.
O que é que mais aprecias nos teus amigos.
Simplicidade e a questão deles saberem estar presentes nos momentos de
alegria e aflição
A tua actividade favorita é....
A de jornalismo
Qual é a tua ideia de felicidade?
Compara-se a saúde. Se não sentes a falta dela significa que a felicidade
está presente. É poder se se orgulhar de tudo que conquistou sem remorsos de
ter prejudicado ou magoado alguém.
O que seria a maior das tragédias?
Um tsunami em que todos perdemos a vida
Quem gostarias de ser, se não fosses tu mesmo?
Não faço a ideia mínima
E onde gostarias de viver?
Moçambique, hoje, amanhã é sempre
Qual é a tua cor favorita?
Multicolor (rubialac) exceptuando o preto é o branco (detesto)
E a flor?
Rosa
E a ave?
Papagaio
Os teus actores/actrizes preferidos?
Em Moçambique muitos e no estrangeiro James Bond (007)
E os filmes de que mais gostas?
De princesas e príncipes em forma de quadradinhos e o reino animal
Quem são os teus heróis de ficção?
Alguns
E as heroínas?
Algumas
A tua música favorita é... muitas
E os músicos de que mais gostas?
Muitos
Quem são as tuas heroínas na vida real?
A minha mãe falecida porque passou por várias situações para conseguir
manter-nos na escola e colocar comida na mesa todo o santo dia. Ela foi uma
verdadeira heroína
E os heróis?
Alguns
Qual é a tua palavra favorita?
Compreensão
O que é que mais detestas?
A mentira
Quais são as personagens históricas que mais desprezas?
Não faço ideia
Quais os dons da natureza que gostarias de possuir?
A capacidade de decifrar todas as mentes dos seres humanos e animais (risos)
Como gostarias de morrer?
A dormir e sem dor
Agora, já, como estás a sentir-te? Tranquila
Que defeito é mais fácil perdoares?
Imaturidade
Qual é o lema da tua vida?
"Plante boas acções para colheres
vitórias’’