Outro olhar sobre a
morte da Zena Bacar
Sempre
que um artista de grande calibre perde a vida, tem sido comum nas redes sociais
aparecerem comentários que colocam em causa o papel dos órgãos governamentais
que operam na área da cultura. Muitos
deles, são comentários do tipo, se o governo tivesse intervindo o artista X não
teria morrido tal como Marta e Maria declararam a Jesus aquando da morte do seu
irmão Lázaro, amicíssimo de Jesus.
Quanto
a surpreendente morte da conceituada cantora Zena Bacar, os comentários,
embora diferentes na sua abordagem, para
os mais atentos, percebeu-se que o seu alcance tinha a ver com as críticas que
eram lançadas ao Estado como se fosse inteiramente responsável pela morte dessa
diva. Por isso, de forma grosseira, as pessoas problematizavam o papel que é
desempenhado pelo governo no que toca a protecção social dos artistas.
É
certo que o governo, neste caso, o Ministério e direcções culturais, têm ou
deviam ter um papel preponderante a desempenhar, daí que existe, a associação
dos músicos, embora a opinião pública considere que poucas são as acções
concretas e visíveis que são desenvolvidas por esta agremiação. Por exemplo, de
forma recorrente, tem se questionado acerca da inexistência de um plano de saúde
para os músicos.
A
respeito da morte e da figura da Zena Bacar, os comentários que inundaram e que
ainda inundam as redes sociais, com destaque para o facebook, em nenhum momento
tem como alcance a problematização do papel por ela desempenhada com vista a
garantir o seu próprio bem estar. Digo isso porque no nosso meio há músicos que
quando ainda estão em activo, quase todos finais de semana são chamados para
actuar em eventos e de lá saem com um bom cachê.
Entretanto,
poucos músicos fazem algo visível de maneira que assim que a carreira terminar,
consigam viver sem ter que passar pela condição da marginalização. Como
consequência, quando ficam doentes, como se de cidadãos pacatos fossem são
internados nos hospitais públicos, isto é, em locais cujas deficiências são por
nós sobejamente conhecidas.
Face
a esta triste realidade, o meu comentário é o seguinte: é necessário que as
entidades governamentais criem ou intensifiquem estratégias com vista a
protecção social dos artistas. Refiro-me à estratégias que visam regular a vida
do artista pois não se justifica que terminada a carreira, sob pretexto de o
artista ter levado o nome de Moçambique ao além fronteira, apareça a reclamar
do tipo está sendo marginalizado pelo governo do dia.
De
salientar que no tempo em que o artista ainda está em activo, factura milhões e
milhões nos espectáculos semanais e no dia seguinte publica fotos nas redes
sociais com um novo carro, casa, etc e quando a carreira e a fama terminam,
vira um autêntico paupérrimo. A questão que se coloca é: O que este “artista”
fez ao longo da sua carreira com vista a garantir o seu próprio bem estar? Será
que não sabia que a fama e o dinheiro não são coisas naturais mas sim
passageiras?
Por
exemplo, na Alemanha o governo intervém de forma rígida na vida dos jogadores
estrangeiros. Do valor mensal que se recebe, corta-se uma percentagem e é
canalizada ao INSS do seu respectivo país de forma que assim que a carreira
terminar, o mesmo tenha onde enxugar as lágrimas.
Portanto,
já é altura certa para o Estado moçambicano intervir de forma directa na
protecção social dos artistas, e é também altura certa para o artista
moçambicano começar a despertar do sono profundo, sobretudo no ponto do
pós-carreira. Chega de ouvir-se lamentações de alguém que em algum momento da
sua vida ostentava uma saúde financeira que nada espelha a realidade dos
moçambicanos.